Você sabia que o Brasil é o segundo país do mundo com mais diagnósticos de síndrome de burnout?
Talvez você não esteja familiarizado com esse termo, mas os sintomas podem estar mais perto da sua rotina do que imagina. Sabe aquele cansaço que não passa, mesmo depois de um final de semana de descanso, e a motivação para encarar as demandas do trabalho desaparece? Ou talvez você até tenha conquistado a tão sonhada promoção, mas ao invés de alegria você sente mais ansiedade, irritação e uma constante sensação de sufocamento?
Todos nós temos dias difíceis no trabalho, mas quando chegar em casa exausto vira uma rotina desconfortável, é hora de prestar atenção.
A síndrome de burnout é mais conhecida como Síndrome do Esgotamento Profissional. Ela é um estado de tensão e estresse constante, acompanhado de um esgotamento físico e emocional por causa de circunstâncias de trabalho desgastantes.
Infelizmente, para muita gente Burnout é tratado como fraqueza. Mas é impossível ignorar algumas estatísticas no Brasil.
Setembro é o mês oficial da campanha de prevenção ao suicídio, um assunto que ainda é aquele elefante na sala que a gente tenta esconder debaixo do tapete. Mas segundo a OMS – o Brasil registra uma média de 14 mil casos de suicídio por ano. 38 pessoas por dia.
verdade é que precisamos urgentemente romper o silencio e enfrentar os estigmas em torno da saúde mental.
Para nós, segurança no trabalho também é segurança psicológica. Por isso, preparamos para você um guia completo sobre Síndrome de Burnout, contando com insights e dicas de especialistas para ajudá-lo a reconhecer os sinais e cuidar da sua saúde mental no dia a dia de trabalho.
O que é a Síndrome de Burnout?
A Síndrome de burnout é um distúrbio emocional acompanhado por uma sensação de esgotamento emocional, cansaço constante, estresse e desgaste físico.
A Síndrome é desencadeada em ambientes de trabalho desgastantes, que exigem responsabilidade excessiva e muita competitividade. Por isso, o Burnout também é conhecido como Síndrome do Esgotamento Profissional.
A palavra burnout tem origem inglesa e se refere a uma “queima até a exaustão”, ou seja, um colapso que vem depois de usar toda a energia disponível.
De acordo com Christina Maslach, psicóloga social norte-americana, especialista em esgotamento ocupacional, o Burnout tem 3 dimensões: exaustão emocional, despersonalização e redução da realização pessoal.
A exaustão emocional é uma resposta ao estresse, como uma sensação de esgotamento. É como se você não tivesse mais energia para fazer tarefas simples do seu dia a dia, e a rotina de trabalho passa a ser dolorosa e cansativa.
Na despersonalização, você sente um distanciamento emocional dos colegas de trabalho e os contatos tornam-se impessoais. Além disso, acontece uma mudança negativa na forma como você se sente em relação ao trabalho. No lugar da realização pessoal, você sente indiferença e pessimismo.
Para Christina Maslach, o Burnout exige uma análise um pouco mais ampla. “Temos que entender as pessoas individualmente, mas não podemos perder de vista onde elas estão trabalhando. Minha experiência mostra que, se você descreve o esgotamento como uma doença, as pessoas simplificam (…) a gente tende a não pensar nas questões mental-psicológicas e a abordagem delas é individual.” afirma a psicóloga.
Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), ambientes de trabalho inseguros criam fatores de risco para doenças mentais, são conhecidos como riscos psicossociais. Por exemplo, falta de comunicação clara, desorganização nos processos de trabalho e desvio de função, podem aumentar o nível de estresse, aumentando também o risco de exaustão, esgotamento, ansiedade e depressão. Além disso, os riscos psicossociais também podem causar ou aumentar problemas físicos.
No período de 2000 a 2016 a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) avaliaram a relação de doenças do coração com a duração da jornada de trabalho de pessoas do mundo todo.
A pesquisa apontou que jornadas de trabalho iguais ou maiores que 55 horas semanais aumentam em 35% o risco de Acidente Vascular Cerebral (AVC). Em 2016, por exemplo, foram registradas mais de 700 mil mortes atribuídas à condição de trabalho excessivo. São quase 8,9% da população mundial.
Christina Maslach ainda conclui que: “Esse declínio na qualidade do trabalho e na saúde física e psicológica pode custar caro – não apenas para o trabalhador individual, mas para todos os afetados por essa pessoa.”
Quais características podem levar um colaborador ao quadro de Burnout?
Ivan Mario Braun, psiquiatra doutor que atende pelo Hospital Israelita Albert Einstein pelo Hospital Sírio-Libanês, chama atenção para algumas condutas trabalhistas que podem influenciar na saúde mental do trabalhador e levá-lo à síndrome de esgotamento. Dentre elas, ele destaca:
Elevadas demandas no trabalho;
Bullying;
Falta de autonomia para tomar decisões;
Poucas oportunidades de participação;
Pouca comunicação interna;
Aumento das responsabilidades;
Falta de organização laboral;
Falta de recursos (pessoais e econômicos);
Falta de feedback positivo;
Restrições administrativas.
Tendo em vista esses pontos, o especialista ainda afirma que medidas institucionais como incentivo para melhora do clima institucional, participação ativa das equipes nas tomadas de decisão e liderança focada em pessoas e relacionamentos são as mais relevantes para combater o alto número de burnout dentro das empresas.
Como o Burnout difere do estresse comum?
Quem nunca chegou em casa exausto depois de um dia ruim no trabalho? O estresse é uma reação normal. Mas como diferenciar o estresse comum dos sintomas do Burnout?
É importante ressaltar que o diagnóstico da Síndrome de Burnout só pode ser feito por um profissional qualificado, seja um psicólogo ou psiquiatra. Mas existem alguns sintomas básicos que podem nos ajudar a diferenciar o estresse aceitável dos primeiros sintomas de risco de burnout.
A síndrome de Burnout é diferente do estresse comum, que é agudo, repentino, mas tem um curto prazo de duração. No Burnout o estresse no trabalho se torna crônico, ou seja, ele é constante. Mesmo com bons dias de descanso ou distração, ele parece não ter fim.
Além disso, o Burnout é caracterizado pelos estágios já mencionados anteriormente: exaustão, despersonalização e redução da realização pessoal. Já o estresse comum pode ter uma variedade de sintomas, que não são tão específicos.
Quais profissões estão mais expostas?
Embora os fatores de risco psicossociais, incluindo os riscos do Burnout, possam ser encontrados em todas as áreas de trabalho, existem algumas ocupações onde a exposição à pressão e alta responsabilidade é maior.
De acordo com o Ministério da Saúde, a Síndrome de Burnout é mais comum em profissionais como médicos, enfermeiros, professores, policiais, jornalistas, entre outros.
Técnicos de segurança do trabalho, por exemplo, também podem estar expostos a condições potencialmente traumáticas e estressantes. Imagine presenciar situações de risco e até mesmo acidentes, vendo colegas se machucando.
Além disso, eles podem enfrentar a resistência dos colaboradores em seguir as regras de segurança, o desafio de acompanhar a atuação das normas, e a responsabilidade de proteger a integridade dos trabalhadores.
Dados e estatísticas do Burnout no Brasil
Você sabia que 30% dos trabalhadores no Brasil sofrem com a síndrome de burnout? Segundo a pesquisa feita pela International Stress Management Association, divulgada pela Associação Nacional de Medicina no Trabalho, dos 100 milhões de trabalhadores no Brasil, 30% foram diagnosticados com Burnout.
Além disso, no ranking mundial dos países com maior quadro de trabalhadores com Burnout, feito em 2021, o Brasil ocupou o segundo lugar, ficando atrás apenas do Japão.
De acordo com uma pesquisa recente da Data Folha, um terço da população brasileira afirma ter insônia, falta ou excesso de apetite e frequentes episódios de ansiedade. Mas quando a pergunta é sobre saúde mental, apenas 7% reconhece que ela é ruim ou péssima. Esse levantamento mostra um descompasso entre os sintomas que as pessoas descrevem e a percepção que elas têm da própria saúde mental. Entre as inúmeras leituras possíveis a partir desses dados, podemos perceber como ainda existe um estigma quando o assunto é saúde mental no Brasil.
A falta de reconhecimento ou entendimento dos próprios sintomas de saúde mental pode atrapalhar a identificação e reconhecimento do Burnout.
Além disso, no desenvolvimento do Burnout em suas fases iniciais, é possível que o profissional sinta uma recompensa temporária ou ilusória, como quando recebe promoções e reconhecimento pelo esforço extra.
Estar “ocupado” ou “sobrecarregado” pode ser visto como um sinal de importância ou dedicação, e acaba validando a ideia de que se sacrificar pelo trabalho é uma atitude positiva. Por isso, conhecer e reconhecer os riscos e sintomas do Burnout é essencial para qualquer trabalhador.
4 tipos de Sintomas do Burnout: como identificar?
Para a psicóloga, doutora e líder do grupo de pesquisa sobre Estresse e Burnout na PUC do Paraná, Ana Maria Benevides, os sintomas do Burnout podem ser classificados em 4 tipos:
Sintomas físicos:
- Fadiga e cansaço constante;
- Distúrbios do sono;
- Enxaquecas;
- Baixa na imunidade;
- Problemas no coração, pulmão e estômago;
- Perda de libido;
- Alteração no ciclo menstrual.
Sintomas psíquicos:
- Falha na memória;
- Falta de atenção;
- Dificuldade de concentração;
- Lentidão no raciocínio;
- Sentimentos de alienação;
- Impaciência;
- Depressão;
- Desânimo;
- Desconfiança.
Sintomas comportamentais:
- Irritabilidade;
- Agressividade;
- Dificuldade de relaxar;
- Inflexibilidade para mudanças;
- Perda de iniciativa;
- Aumento no consumo de substâncias;
- Ideações suicidas.
Sintomas defensivos:
- Tendência ao isolamento;
- Perda do interesse pelo trabalho ou lazer;
- Cinismo e indiferença.
Ana Maria Benevides também alerta que os sintomas e causas do Burnout não são universais. Ou seja, a síndrome se desenvolve por uma combinação de características pessoais mais aspectos do ambiente de trabalho, que variam de pessoa para pessoa. Os sintomas podem também mudar ao longo do tempo e não há necessidade da presença de todos eles para identificar a síndrome.
Por exemplo, o que é estressante para você pode não ser estressante para mim. Além disso, o mesmo fator de estresse pode te afetar de uma forma diferente, em diferentes momentos da sua vida. Se você passa por alguma crise pessoal (divorcio, luto, etc.), a exposição ao estresse no trabalho é um fator de risco para Burnout.
Razões por trás do Burnout: entendendo o porquê
Para o filósofo sul-coreano Byung-ChulHan, nossa sociedade vê com bons olhos a cobrança excessiva por produtividade e alta performance. Nesse contexto, estar sobrecarregado com o trabalho é motivo de orgulho para muita gente. Além disso, com o avanço constante da tecnologia o mercado de trabalho é cada vez mais competitivo. Sai na frente quem conseguir produzir mais e mais rápido.
Mas apesar dos bons resultados que a cultura da alta performance trouxe, novos distúrbios emocionais surgiram. Byung-ChulHan chama de “sociedade do cansaço”. Você conhece aquela sensação persistente de culpa quando tenta relaxar e descansar? Aquela impressão de que deveria fazer algo mais produtivo? A verdade é que nós já estamos inseridos em uma cultura que incentiva a sobrecarga no trabalho.
Tudo isso somado a um ambiente de trabalho que não valoriza a saúde mental dos seus colaboradores é a receita perfeita para a Síndrome de Burnout.
Conclusão
Muitas organizações ainda minimizam aspectos como: falta de processos claros, falha na comunicação, falta de reconhecimento e ausência de crescimento e progresso. Como se fossem apenas detalhes aceitáveis a qualquer trabalhador que veste a camisa da empresa. Mas a longo prazo esses fatores podem gerar um quadro de estresse, insatisfação e exaustão.
Se você quiser se aprofundar nesse tema, faça o download gratuito do nosso ebook O Que é Burnout: Guia de Introdução à Saúde Mental no Ambiente de Trabalho.