Nível de maturidade da cultura de segurança: Saiba avaliar

nivel de maturidade segurança do trabalho

Precisamos assumir: nenhum programa de SST consegue controlar totalmente os comportamentos de risco dos colaboradores. Mais do que cumprir normas e ficar de olho no índice de acidentes de trabalho, o foco deve ser a raiz dos problemas: o comportamento de risco.  Quanto mais madura for a cultura de segurança, menor será a necessidade de investir em controle e supervisão. Você sabe medir a maturidade da cultura de segurança da sua empresa? 

Como tirar o planejamento de SST do papel e transformá-lo em um comportamento maduro? O primeiro passo é identificar a que pé está a cultura de segurança da empresa. 

Continue lendo e você vai conhecer dois métodos para identificar o nível de maturidade da cultura de segurança de uma empresa. 

Prevenção de acidentes x cultura de segurança? 

O avanço da tecnologia trouxe a modernização dos processos produtivos. Hoje a gente consegue produzir uma infinidade de produtos em um tempo muito menor que antes. Mas a complexidade das operações trouxe novos riscos ocupacionais. 

O Brasil ocupa o quarto lugar no ranking mundial de acidentes do trabalho, segundo dados do Ministério do Trabalho. Mesmo com o desenvolvimento da legislação trabalhista na área de segurança e saúde do trabalho, os indicadores ainda mostram que grande parte das empresas não tem uma gestão de segurança do trabalho eficiente. 

O Ministério do Trabalho no Brasil conta hoje com 37 normas regulamentadoras que fiscalizam, regulamentam e padronizam os procedimentos de segurança e prevenção no trabalho.

O Curso NR 10 por exemplo, é obrigatório para todos os trabalhadores que tem contato com eletricidade. Já o Curso NR 35, é obrigatório para colaboradores que realizam trabalhos em altura acima de 2 metros em relação ao nível inferior.

Mas mesmo com todo investimento e fiscalização, os indicadores de acidentes de trabalho no Brasil ainda continuam progredindo. 

Por que isso acontece? Muitos programas de prevenção SST focam apenas no que a norma diz. Mas a verdade é que não existe lei que controle o comportamento das pessoas. Você pode ter o melhor programa de prevenção de acidentes, mas ele é apenas parte do processo. 

A grande questão é: como mudar comportamentos de risco dos colaboradores? 

Quando um profissional entra em uma empresa ele tem um objetivo claro: garantir seu emprego. Por isso, ele se adequa à cultura organizacional e às crenças e valores da liderança da empresa. Um comportamento não pode ser analisado deslocado do seu contexto maior, ou seja, um acidente de trabalho não pode ser resolvido sem antes avaliar toda a cultura organizacional da empresa. 

É por isso que quanto menor for o nível de maturidade da cultura de segurança da empresa, mais difícil será transformar todo planejamento de segurança em ações. 

Antes de pensar em como engajar os colaboradores da empresa nos seus projetos, é preciso dar atenção a cultura de segurança vivida ali. 

O que é cultura de segurança? 

O significado da palavra cultura, de modo geral, engloba comportamentos, hábitos e padrões de um determinado grupo. O conceito de cultura de segurança é relativamente novo, por isso existe uma variedade de conceitos. 

A expressão cultura de segurança foi usada pela primeira vez em um relatório técnico sobre o acidente nuclear de Chernobyl, em 1980 na Ucrânia. 

O conceito aparece no relatório para explicar os erros organizacionais responsáveis por gerar as condições responsáveis pelo desastre nuclear. A preocupação com a segurança na indústria nuclear soviética também cresceu muito nessa época. 

Cultura de segurança, basicamente, é o conjunto de pensamentos, comportamentos e ações que caracterizam a cultura de segurança organizacional de uma empresa. 

Para Cooper (2000), cultura de segurança pode ser definida a partir da relação de três aspectos: 

 

  1. Percepções e atitudes
  2. Comportamento e ações
  3. Estrutura da Organização

 

Quando um acidente de trabalho acontece, o primeiro impulso é entender a causa para corrigir um erro. Mas você já parou para pensar que esse comportamento inseguro faz parte de um todo maior? 

Pense em uma árvore. Você pode olhar apenas para suas folhas, ou seus galhos. Mas não pode ignorar que eles compõem um organismo maior: a árvore. Da mesma forma, ao olhar para uma árvore, você não pode ignorar que ela está inserida em um contexto maior. Uma floresta, ou um parque, por exemplo. 

Quando direcionamos nosso olhar apenas para os processos de produção ou para o colaborador que errou, nossa compreensão sobre o que realmente está desajustado na cultura organizacional fica limitada. 

O fundamento de todo comportamento é a cultura, ou seja, a cultura organizacional e de segurança de uma empresa é o que dita os comportamentos dos colaboradores. 

“O colaborador apenas estava desatento e errou” .

Será mesmo este um diagnóstico satisfatório? 

Todo gestor quer reduzir o número de acidentes. A grande questão não é “Como o acidente aconteceu?” mas sim “O que fundamenta esse comportamento de risco”.

 

 

 

 

2 métodos de avaliação da maturidade da cultura de segurança

Para entender o nível de maturidade você precisa de um diagnóstico de cultura de segurança. É por ele que você vai conseguir avaliar os pontos fortes e fracos da organização e traçar um plano de mudança. 

Muitas metodologias de avaliação da cultura organizacional têm surgido no mundo todo nos últimos anos. As metodologias mais usadas no Brasil são a Curva de Bradley e o Hearts and Minds.  

 

 

 

 

Método 1: Curva de Bradley

DUPONT - Cultura De Segurança

 

 

 

Curva de Bradley é um método de análise criado em 1995 pela DuPont, empresa multinacional americana e a segunda maior empresa química do mundo. 

Ela observou as curvas de acidentes de algumas empresas usando a ideia do livro “Os 7 hábitos das Pessoas Altamente Eficazes” de Stephen Covey. O livro vendeu mais de 15 milhões de exemplares em vários idiomas. 

O autor lista sete hábitos que uma pessoa altamente eficaz deve desenvolver. Os hábitos apresentam uma evolução do estágio dependente, passando pelo independente e chegando ao nível de interdependência. Observou-se que o índice de acidentes diminui de acordo com a evolução nos estágios de maturidade de segurança. 

A Curva de Bradley é uma ferramenta que aponta os estágios do amadurecimento da cultura de segurança da empresa. 

 

 

 

 

Estágios da Curva de Bradley  

  • Estágio reativo: Nesse estágio ninguém assume responsabilidade pela segurança. Afinal, “acidentes acontecem”. Não se pensa em gerenciamento dos riscos e apenas se reage quando acidentes acontecem. A segurança do trabalho é um assunto exclusivo para profissionais da área. 


  • Estágio dependente: Neste estágio todos entendem que segurança no trabalho é seguir regras. Os índices de acidente até diminuem e toda a equipe acredita que não haveria acidente se todos seguissem as regras. Segurança do trabalho aqui é só uma obrigação e só funciona com supervisão e punição. 


  • Estágio independente: Neste estágio as pessoas já assumem responsabilidade pela própria segurança. A segurança do trabalho então se torna um hábito e os resultados vem naturalmente. 


  • Estágio interdependente: Esse é um estágio de maturidade na cultura de segurança. Todos se sentem preparados para contribuir com segurança e se responsabilizar por si mesmo e pelos outros. Os índices de acidentes e lesões se aproximam de zero e a organização percebe um aumento na produtividade, qualidade e lucratividade. 

 

 

 

 

Método 2: Hearts and Minds 

SHELL - Cultura De Segurança

 

 

 

 

 

O método Hearts and Minds (corações e mentes) foi desenvolvido pela Shell E&P e Energy Institute depois de 20 anos de pesquisa. O modelo Hearts and Minds traz cinco níveis para avaliar a cultura de segurança: patológico, reativo, calculativo, proativo e generativo. 

 

  • Nível patológico: Ninguém se importa de fato em trabalhar para a segurança. Enquanto a empresa não tomar uma multa, não há necessidade de implementar nenhum programa de segurança. A empresa faz o que é obrigatório. 

 

  • Nível reativo: O trabalho para segurança só é feito quando acontece um acidente. A empresa reage ao acidente que aconteceu, faz uma análise de risco e se compromete em evitar que ele aconteça de novo. Não há gestão de riscos. O foco não é o todo, mas o problema específico que queremos resolver o mais rápido possível.

 

  • Nível Calculativo: A empresa ama um programa de segurança. O foco é a burocracia e o sistema, pois enxergam segurança como um dever de cumprir normas legais. Os programas são supervalorizados, mas a prática e a real preocupação com a saúde e segurança ficam a desejar. 


  • Nível Proativo: A liderança da empresa realmente se preocupa com a segurança e saúde dos colaboradores. Existe liberdade de partilhar ideias e relatar os riscos no ambiente de trabalho. Não existe aquele impulso de empurrar o acidente pra debaixo do tapete. A segurança não é só uma obrigação legal, mas já faz parte da rotina da empresa. 


  • Nível Generativo: Segurança é um modo de ser, e não apenas uma forma de negócio. A empresa não abre mão da segurança e a prioriza em todos seus processos.

Como aplicar os métodos de avaliação? 

Em suma, por meio de entrevistas e avaliações comportamentais. É importante entrevistar e avaliar desde a liderança até os trabalhadores da produção. Índices de acidentes não são suficientes para avaliar a evolução de uma cultura de segurança. Muitos comportamentos de risco não causam acidentes. Por isso o foco está no comportamento, que é a base de tudo o que acontece na empresa. 

 

 

 

O papel do líder na cultura de segurança 

Em primeiro lugar: Não existe cultura de segurança madura sem o envolvimento da liderança. Não é o colaborador que determina o nível de maturidade da cultura de segurança. Ele só está fazendo tudo o que é possível para garantir seu emprego. 

 

Quando um acidente de trabalho acontece o foco não é só o erro do colaborador. Quando o colaborador percebe que a segurança é um valor da empresa, ele segue o mesmo ritmo. 

 

Portanto, o gestor precisa deixar claro quais os comportamentos são esperados e recompensados pela empresa. Os colaboradores sabem o que você espera deles? 

 

A gestão de segurança é sobretudo uma gestão de pessoas. Comportamentos se sobrepõem às leis e normas. O objetivo é criar uma relação de interdependência e confiança, onde o colaborador não precise de supervisão e punições.

 

 O x da questão está no que o colaborador faz quando ninguém está olhando. Essa é a melhor definição de cultura; a forma como as coisas acontecem automaticamente. 

 

A boa notícia é que a cultura é totalmente mutável. Mas a mudança não vem só por uma ordem, ou documento. O envolvimento e o comportamento da liderança é o principal fator da cultura de segurança. 

 

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Marlon Pascoal Pinto_autor blog engehall_Marlon Pascoal Pinto
Responsável Técnico e Instrutor de Cursos de Capacitação em Segurança do Trabalho na Engehall. Além disso, possui formação técnica em Segurança Pública, graduação em Engenharia Elétrica e duas pós-graduações: uma em Engenharia de Segurança do Trabalho e outra em Higiene Ocupacional.