O treinamento online não é mais uma aposta para o futuro. Em apenas uma década o número de matriculados em cursos à distância aumentou 247,3%, segundo dados do Inep. Na educação corporativa, desde 2014, o EAD alcançou 42% das 500 maiores corporações dos EUA.
Mas nem sempre é fácil se adaptar a um novo formato. Afinal, é comum ter uma certa desconfiança de algo novo. Além disso, confiar em um modelo tradicional parece ser mais seguro. No mínimo você vai continuar alcançando os mesmos resultados.
O problema é: O mundo não é mais o mesmo. Nas últimas décadas a revolução digital transformou a maneira como lidamos com a informação, comunicação, relacionamentos, dinheiro e trabalho.
O pensador britânico Ken Robinson, comparou a evolução que o mundo passou nos últimos 50 anos e percebeu que: enquanto a sociedade passou por uma profunda transformação a educação permaneceu com a mesma estrutura do século passado.
É como tentar pilotar um avião de última geração com um manual de instruções de um modelo antigo. Se as ferramentas da tecnóloga já estão difundidas em todas as áreas da nossa vida, não faz mais sentido deixar de aproveitar os benefícios que ela traz para o processo de aprendizagem.
Por isso, pesquisamos as maiores objeções ao ensino EAD para saber se realmente é possível conseguir resultados efetivos com treinamentos nesse formato.
As 6 maiores objeções ao treinamento online
1. Falta de interação, engajamento e comunicação
No ensino presencial, os alunos tem oportunidade de interagir diretamente com seus colegas e instrutores. Isso pode dar uma sensação de conexão imediata e pessoal.
Embora exista a percepção de que o contato físico traz uma pessoalidade para o ensino, a maioria das aulas e treinamentos presenciais são expositivos. Basicamente, o aluno vai a uma sala de aula para ouvir o professor falando.
Mas se você acredita que cada ser humano é diferente, com rotinas, desejos e preferencias diversas, não faz sentido confiar que em um método de ensino que coloca todos alunos em uma mesma sala, e apresenta o conteúdo de forma uniforme.
Além de oferecer um modelo de ensino assíncrono, ou seja, o aluno pode acompanhar as aulas em qualquer horário ou local, o treinamento online pode melhorar o foco e a retenção dos alunos.
Primeiro: o aluno é protagonista. Ele escolhe como adaptar os estudos a sua rotina, e dessa forma administra seu engajamento.
Segundo: De acordo com a eLearn Magazine, o microlearning, uma estratégia de ensino constituída por micro aulas online de no máximo 5 minutos, melhora o foco dos estudantes em até 80%
Sem falar que, depois da aula expositiva os alunos esquecem quase 80% do que foi dito.
De acordo com o filosofo e sociólogo Pierre Lévy, pesquisador em ciência da informação, as tecnologias da informação e comunicação estão transformando profundamente o pensamento humano e mudando nossa relação com o conhecimento, nossa forma de aprender, lembrar e interagir. Lévy acredita que as atividades interativas no contexto digital, como os games, trazem resultados promissores na aprendizagem.
O treinamento online, no formato EAD por exemplo, pode personalizar o ensino e ampliar as formas de engajamento.
Algumas das ferramentas que ele oferece são:
Fóruns de discussão; permite discussão de tópicos específicos relacionados ao curso. Os alunos podem postar perguntas, responder um ao outro e participar de discussões moderadas pelos instrutores.
Salas de chat; ambiente para comunicação em tempo real, trocando ideias em um formato mais dinâmico;
Videoconferências; permite que alunos e instrutores tenham interações em tempo real.
Atividades em grupo; as plataformas EAD oferecem recursos tecnológicos para atividades em grupo. Os alunos podem colaborar em projetos, realizar estudos de caso e debater temas importantes.
Monitoria e feedback individualizado; as plataformas EAD podem oferecer monitoria personalizada, atendendo a dúvida de cada aluno fora de forma especifica. Além disso, o aluno pode receber um feedback personalizado, uma vez que a plataforma consegue acompanhar seus desenvolvimentos de aprendizado de forma mais especifica.
Recursos interativos; simulações, animações, infográficos, quizzes, são alguns dos muitos recursos que permitem que os alunos explorem o conteúdo de forma mais dinâmica. Além de facilitar a aprendizagem proporciona um maio engajamento.
Gamificação; incorpora elementos de jogos, como pontuação, recompensas, rankings e desafios no processo de aprendizado. Apresentar a aprendizagem como uma experiência, e não só como aquisição de novas informações, é o diferencial do ensino EAD. Além da atmosfera divertida, a gamificação desperta a motivação do aluno para a aprendizagem.
Recursos de realidade virtual (VR) e realidade aumentada (AR); embora não sejam amplamente adotados em todas as plataformas EAD, os recursos de realidade virtual e realidade aumentada estão cada vez mais populares. Os alunos podem vivenciar experiências imersivas e interativas de forma inovadora.
2. Falta de supervisão no processo de aprendizagem
Com o acumulo dos estímulos digitais e a avalanche de informações ininterruptas, fica difícil confiar que o aluno vai ser responsável no processo de aprendizagem online.
Mas a autonomia é um dos principais fundamentos da Andragogia, ciência que explora o processo de aprendizagem de adultos. Um adulto só aprende de verdade quando ele desenvolve sua capacidade de tomar decisões sobre o que, como e quando aprender. Adultos aprendem melhor quando são envolvidos ativamente no seu processo de aprendizagem.
Quando o aluno tem autonomia para definir seus objetivos de aprendizagem e o ritmo que desejam avançar, ele se sente mais motivados. Além disso, a autonomia no aprendizado estimula a capacidade de autogerenciamento e consciência de aprendizado continuo, que vai além das configurações formais de educação.
O ensino EAD oferece também algumas ferramentas para supervisionar o progresso do aprendizado do aluno:
- Painel do aluno; no painel do aluno o instrutor pode acompanhar o progresso geral dos alunos, incluindo as atividades concluídas, notas e prazos.
- Acompanhamento de atividades: algumas plataformas podem rastrear e registrar as atividades dos alunos, como por exemplo: visualização de vídeos, participação de fóruns, acesso a materiais, etc.
- Relatórios de progresso; as plataformas EAD também podem oferecer recursos para geração de relatórios sobre o desempenho de cada aluno.
- Avaliações online; as plataformas EAD oferecem uma variação de formatos para aplicação de avaliações, provas ou trabalhos.
- Comunicação assíncrona: recursos de comunicação como mensagens internas, e-mails ou chats, permitem que os alunos entrem em contato com os instrutores no momento que desejarem.
3. Barreiras tecnológicas
O acesso limitado à tecnologia e o conhecimento tecnológico insuficiente são umas das objeções mais fortes ao treinamento online e o ensino EAD. Os alunos que não tem muita familiaridade com tecnologia podem enfrentar dificuldades na hora de acessar a plataforma. Além disso, algumas comunidades podem não ter acesso a dispositivos como computadores, smartphones e internet estável, o que dificulta a inclusão no ensino EAD.
A exclusão digital é de fato uma realidade no Brasil. Mas só em 2021, de acordo com o IBGE, a internet foi usada por 84,7% da população com mais de 10 anos de idade no país. O acesso em áreas rurais também aumentou de 57,8% para 74,7%. O dispositivo mais usado para acessar a internet em casa foi o celular, com 99,5%.
Além disso, as instituições de ensino podem oferecer suporte técnico e treinamento aos alunos para auxiliar nas dificuldades tecnológicas. Tutoriais, sessões de orientação e materiais de apoio são opções disponíveis para capacitar os alunos no uso dos recursos da plataforma EAD.
4. Aprendizado prático limitado
Alguns campos de estudo exigem o desenvolvimento de habilidades práticas especificas e o treinamento online pode enfrentar desafios para fornecer experiências práticas autenticas.
Mas com o uso de tecnológicas avançadas, como a realidade virtual e aumentada, já é possível proporcionar experiências práticas virtuais imersivas.
Também é possível incluir estudos de caso, projetos práticos e trabalhos em grupo, dando a oportunidade de os alunos aplicarem conceitos teóricos em situações reais.
Laboratórios virtuais, simuladores de prática e plataformas interativas também são algumas opções de ferramentas que desenvolvem habilidades especificas.
5. Dificuldade de avaliar o aprendizado
No ensino presencial o instrutor pode realizar avaliações mais autenticas e observar o desempenho dos alunos em tempo real.
Já no treinamento online fica a dúvida: Como garantir que os alunos não irão acessar recursos adicionais, compartilhar respostas e até mesmo contar com a ajuda de outras pessoas durante as avaliações?
Realmente, evitar práticas desonestas durante as avaliações no ensino EAD é um obstáculo importante. Mas já existem medidas para minimizar esse problema.
Algumas delas são:
Procedimentos de autenticação e identificação:
Você pode usar métodos de autenticação para garantir que os alunos sejam quem afirmam ser. Senhas, códigos únicos enviados por mensagem de texto, reconhecimento facial ou biométrico, são uma das opções de tornar a autenticação mais rigorosa.
Ferramentas de monitoramento durante as avaliações:
Ferramentas de monitoramento durante as avaliações, como software de proctoring, são importantes para detectar atividades suspeitas, como acesso a recursos adicionais, compartilhamento de respostas e outros tipos de ajuda externa. Essas ferramentas podem rastrear movimento dos olhos, monitorar o uso do teclado ou webcam, e detectar padrões de comportamento que indicam práticas desonestas.
Avaliações personalizadas e baseadas em habilidades:
Avaliações personalizadas, onde as perguntas e tarefas variam para cada aluno também são boas alternativas avaliativas. Isso dificulta o compartilhamento de respostas, além oferecer uma avaliação mais adaptava a cada aluno.
Avaliações em tempo real:
Você pode realizar avaliações em tempo real, onde os alunos são monitorados durante a prova por meio de videoconferência ou outras ferramentas de comunicação.
Variedade de formatos de avaliação:
Use também outros formatos de avaliação para incentivar a aplicação prática do conhecimento e fugir um pouco do padrão tradicional. Perguntas discursivas, estudos de caso, projetos práticos, apresentações, são algumas alternativas que não dependem exclusivamente de testes com respostas de múltiplas escolhas ou verdadeiro e falso.
Banco de perguntas e testes aleatórios:
Se você ainda prefere o modelo de avaliação de múltipla escolha, você pode criar um banco de perguntas e testes que sejam selecionados aleatoriamente para cada aluno. Dessa forma, os alunos não vão poder contar com respostas pré-fabricadas.
Promover uma cultura de integridade:
É importante mostrar que o aluno participa de uma jornada de aprendizagem, onde ele é o protagonista principal. Por isso, a integridade e o engajamento nas avaliações não serão mais testes punitivos ou obrigatórios, mas simplesmente uma parte de uma experiência de conhecimento.
A integridade, além de todas as habilidades técnicas, é fundamental para uma jornada efetiva. O programa de ensino/treinamento deve mostrar isso desde o início.
6. Dificuldade de aprendizagem
Segundo o “Tendências de Social Media 2023”, o Brasil é o 3° maior consumidor de mídias sociais no mundo. Além disso, o brasileiro fica em média 46 horas por mês navegando pelas redes sociais.
Agora, pense um pouco: Se a gente já não consegue mais enxergar nossa vida sem o uso de smartphones, tabletes, computadores, internet, e redes sociais, por que ainda existe uma resistência ao ensino EAD? Se damos tanta credibilidade as mídias sociais e gastamos tanto tempo com elas, por que acreditar que a aprendizagem digital não é válida?
A verdade é que, na era da internet, ninguém mais precisa de um professor expondo conteúdo em uma sala de aula, da forma tradicional. Com a internet, o acesso fácil e rápido a todo tipo informação e recursos educacionais está na palma da mão de qualquer pessoa, em qualquer lugar.
Qualquer pessoa pode buscar ativamente informações, tutoriais, cursos online, palestras, e uma variedade de formatos para aprender o que precisa e deseja aprender. Além disso, as mídias sociais oferecem uma plataforma de aprendizado colaborativo, onde as pessoas podem se conectar, compartilhar ideias, colaborar em projetos e aprender de forma dinâmica.
Mas precisamos admitir também que muitos treinamentos e cursos no formato EAD são chatos e maçantes. A vontade é só deixar o vídeo rolar e fazer tudo no automático. Isso porque a maioria das instituições de ensino e treinamento ainda não perceberam que o ensino EAD não é migrar o ensino tradicional para uma plataforma digital.
O problema então não é formato EAD, mas os métodos de ensino que muitas instituições usam por ai.
A forma como interagimos com informação e adquirimos conhecimento mudou significativamente, e os modelos de educação precisam acompanhar as atualizações.
Um dos pontos cruciais para reter nossa atenção nas mídias sociais é a personalização. Os algoritmos da rede social analisam nosso comportamento e as interações anteriores para entender nossas preferências e desejos. Com base nisso, ele pode apresentar um conteúdo relevante e personalizado para cada usuário, adaptando aos seus interesses e preferencias.
Já imaginou como um treinamento online pode oferecer essa mesma possibilidade de personalização, conseguindo prender a atenção do aluno em um conteúdo de qualidade?
Ao invés de oferecer informações para aluno decorar, que tal proporcionar experiências marcantes, onde o aluno vai conservar a aprendizagem como uma lembrança, e não como mais uma informação memorizada?
Se eu te perguntar agora, o que mais te marcou em sua relação com segurança no trabalho, por exemplo, tenho certeza que você não vai falar um tópico de alguma norma regulamentadora que decorou no treinamento. Você vai se lembrar de experiencias. O EAD é um formato que pode oferecer uma imersão em uma jornada de aprendizado, que é muito mais do que decorar normas e conceitos.
![]() | Marlon Pascoal Pinto Responsável Técnico e Instrutor de Cursos de Capacitação em Segurança do Trabalho na Engehall. Além disso, possui formação técnica em Segurança Pública, graduação em Engenharia Elétrica e duas pós-graduações: uma em Engenharia de Segurança do Trabalho e outra em Higiene Ocupacional. |