O “Agosto Lilás” representa uma campanha de conscientização cujo objetivo é destacar a importância de combater a violência contra as mulheres. Embora essa seja uma questão de gênero, a conscientização não deve ser restrita apenas às mulheres, mas deve englobar especialmente os homens, que muitas vezes estão no papel de agressores.
A estatística alarmante de uma em cada três mulheres enfrentando violência globalmente aumenta ainda mais quando analisamos os dados brasileiros.
A situação é grave e exige atenção imediata. A violência contra a mulher não se restringe ao ambiente doméstico; ela pode se manifestar também no local de trabalho, sendo o assédio moral e sexual exemplos disso.
Por essa razão, é fundamental que as organizações estejam atentas a esse problema e criem medidas não apenas para acolher as vítimas, mas também para prevenir tais violências.
Abaixo segue o “cronômetro” da violência contra à mulher no Brasil:
Agosto Lilás: RECONHECENDO A REALIDADE
Em primeiro lugar, antes de avançarmos, é crucial reconhecer que dentro de qualquer empresa, há colaboradoras que podem estar enfrentando relacionamentos abusivos e violentos, seja com chefes, familiares ou parceiros afetivos. Estatisticamente, é improvável que nenhuma mulher em sua equipe esteja passando por isso.
A IMPORTÂNCIA DA INTERVENÇÃO ORGANIZACIONAL
Mesmo que a origem da violência não esteja no ambiente de trabalho, as organizações têm um papel fundamental a desempenhar. A vítima precisa de uma rede de apoio e fontes de informação, e a empresa pode suprir essa necessidade.
Mesmo que a violência não esteja ocorrendo no local de trabalho, é muito provável que ela afete o desempenho e a produtividade da vítima. Assim, segue abaixo uma lista de estratégias que as organizações podem adotar para serem aliadas no combate à violência contra as mulheres:
1. CULTURA ORGANIZACIONAL:
Segundo Schein (1992), a cultura organizacional molda as normas, crenças e valores compartilhados pelos membros da organização. Ao adotar uma cultura que não tolera nenhum tipo de violência ou discriminação de gênero, as empresas podem contribuir para a criação de um ambiente mais seguro e acolhedor.
2. POLÍTICAS, PROCEDIMENTOS e CANAIS DE DENÚNCIA:
De acordo com Gutek (1985), políticas organizacionais que enfatizam a não tolerância à violência e ao assédio sexual transmitem uma mensagem clara aos funcionários e podem impedir a ocorrência desses comportamentos. É importante também que haja canais de denúncia confidenciais, para garantir que as vítimas se sintam seguras ao relatar incidentes.
3. LIDERANÇA FEMININA:
Pesquisas, como a realizada por Eagly e Carli (2007), destacam que a liderança feminina pode influenciar positivamente a cultura organizacional, promovendo a igualdade de gênero e reduzindo comportamentos abusivos.
4. GRUPOS DE DIVERSIDADE:
Os grupos de diversidade são programas de sensibilização, seu objetivo é levar o tema em formatos diferentes para as frentes de trabalho, como por exemplo treinamentos, workshops, palestras, campanhas, diálogos de segurança, gincanas e ações pontuais.
Seu formato é colaborativo e voluntário, e deve ser formado por colaboradores. A empresa fica responsável por capacitar as frentes neste assunto, e dar autonomia para que eles prossigam e “captem” mais participantes para os grupos.
Neste caso pode ser criado um grupo de diversidade só para mulheres, onde serão tratados assuntos como: violência doméstica, relacionamentos abusivos, autoestima, gestão de tempo, autonomia, etc. Os temas podem ser diversos, mas todos voltado para a realidade das mulheres.
4. SEGURANÇA PSICOLÓGICA:
Embora as estratégias acima possam ser implementadas, a segurança psicológica é um fator que potencializa essas práticas, e impacta em outros fatores dentro da empresa, como produtividade, criatividade, participação, e redução de incidentes de segurança.
Isso porque a Segurança Psicológica, segundo a Dr. Amy Edmondson (2019), é a capacidade que temos de assumirmos riscos interpessoais, como expor dúvidas, desconhecimento, erros, e ideias, sem o medo de ser repreendida, punida ou julgada.
Criando espaços com Segurança Psicológica, as mulheres que passam por violência e assédio e se tornam vulneráveis, terão abertura e segurança para expor o que estão passando, sabendo que serão ajudadas e não julgadas ou ignoradas. Por isso, trabalhar esse ponto é essencial dentro de qualquer organização.
Conclusão
O “Agosto Lilás” é uma ótima oportunidade para refletir sobre a importância da prevenção da violência contra mulheres. Principalmente como a sua empresa pode ajudar nesse esforço. Porém, é necessário entender que esse não é um problema que surge ou que existe somente em agosto. Então não deve ser trabalhado de forma pontual, Agosto é para dar mais “vitrine” ao tema, não para criar campanhas e assim que virar o mês trocar o lilás pelo amarelo e achar que fez sua parte.
Por isso, adote uma cultura organizacional que promova a igualdade de gênero, implemente políticas e procedimentos claros, empodere mulheres em posições de liderança, ofereça programas de sensibilização, e desenvolva a Segurança Psicológica na sua empresa. Porque isso fará a diferença a longo prazo, e você irá gerar um impacto positivo na vida e no trabalho dessas mulheres.
REFERÊNCIAS
Eagly, A. H., & Carli, L. L. (2007). Women and the labyrinth of leadership. Harvard Business Review, 85(9), 62-71.
Edmondson, A. (1999). Psychological Safety and Learning Behavior in Work Teams. Administrative Science Quarterly, 44(2), 350-383.
Gutek, B. A. (1985). Sex and the workplace: Impact of sexual behavior and harassment on women, men, and organizations. The Academy of Management Review, 10(1), 76-88.
Schein, E. H. (1992). Organizational culture and leadership (Vol. 2). John Wiley & Sons.


Kendra Venturella
Graduada em Psicologia, atua na área clínica e na área de segurança no trabalho, ambas as frentes são voltadas para o contexto organizacional. Na clínica auxilia as pessoas a enfrentarem os desafios advindos dos ambientes de trabalho. Na Segurança no Trabalho é educadora e facilitadora de aprendizagem.